sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

PRESIDENTE OU PRESIDENTA: ELA JÁ DECIDIU, MAS A DISCUSSÃO CONTINUA

A nossa mandatária máxima já decidiu por Presidenta, mas nem todos concordam. O julgarmo-nos numa democracia, sugere-nos o direito de discordar. Especialmente se levarmos em conta que o vernáculo é imune às atribuições presidenciais.  
                Já ouvi opiniões segundo as quais ambas as formas são corretas.
                Não falta quem afirme que apenas a forma Presidente é correta, baseado no particípio presente do verbo. No verbo ser (2ª conjugação) o particípio presente é ente. Por exemplo, quem é, é um ente, (sinônimo do substantivo  ser) quem lê é um lente, quem assiste é um assistente, portanto, quem preside é um presidente. Esse sufixo pode ter a sua primeira letra modificada, em função da conjugação verbal em pauta, por exemplo, quem anda (1ª conjugação) é um andante, quem pede (3ª conjugação) é um pedinte. Na 4ª conjugação os verbos que me ocorrem têm o mesmo sufixo que os da 2ª.
                Reforça essa tese o fato de não existirem assistentas, pacientas, ardentas, etc.
                Ainda não ouvi a opinião do Prof. Pasquale Cipro Neto, mas creio que concordaria com ela, pois noto nesse lente uma certa liberalidade, um sentimento de que a língua é feita pelo povo e para o povo.  Seria insensato imaginar-se que daria bom resultado a criação de uma língua, por lei imutável, nem mesmo observadas a lei da conservação da última sílaba tônica e a lei do menor esforço, as duas grandes e inexoráveis responsáveis pela adaptação das línguas ao uso dos povos. Essas duas leis não são menos derrogáveis que a lei da gravidade.   
                Sem atribuir minha profecia a coisas que tenha ouvido do ilustre mestre da língua portuguesa, acho que em futuro não distante será correto dizer-se (e escrever-se) “eu falei pra ela”, antigamente a vida era menas difícil”, “ele veio com nós, etc.
                Não acompanhei algumas mutações lingüísticas, como por exemplo, a ocorrida com a expressão “Vossa Mercê, que foi apocopada para “vosmecê ou “vosmicê e acabou evoluindo para o nosso querido e brasileiríssimo “você.  Mas venho observando mudanças na maneira de se dizerem ou escreverem algumas palavras e expressões. Nunca mais vi escritos os pregões vendem-se lotes, fazem-se bordados, consertam-se bicicletas. Os sujeitos dessas orações têm desaparecido, ao sabor da lei do menor esforço (ou da desinformação).
                Mas, voltando ao presidencial caráter do assunto, abro o renomado dicionário Aurélio e vejo:
Presidenta. [Fem. De presidente] S.f. 1. Mulher que preside. 2. Mulher de um presidente.”    
Presidente. [Do lat praesidente] S.2 g 1. Pessoa que preside. 2. Pessoa que dirige os trabalhos duma assembléia ou corporação deliberativa * S. m.3. O presidente da República * Adj 2.g. 4.Bras. Ant. Governador de Estado * Presidente da República. Chefe de Estado republicano.”         
                Nos países de língua inglesa não haveria esse impasse.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

OS DIAMANTES SÃO ETERNOS

De certo ministro da justiça, muito simpático e benquisto pela ditadura militar correu certa ocasião um boato muito feio: diziam que ele era chegado em contrabandear pedras preciosas. Veja só! Fofoca de más línguas, de gente que não tem o que fazer, óbvio.
Mas o caso não ficou muito bem explicado, pelo menos para mim. Bem, eu já disse que devo portar algum problema para entender as coisas. Talvez por isso nunca tenha sido convidado para nenhum ministério. Pessoas que ocupam esses cargos são ligeiras e precisas em identificar oportunidades e contam com advogados extremamente persuasivos. É o direito à defesa, ao contraditório, extensivo a todos os cidadãos, com ou sem pedras preciosas. E você, se for apanhado com a mão na massa, ou com a boca na botija, é bom que saiba disso.
Quase três décadas se passaram e eu comecei a sentir saudade desse distinto senhor, que parecia haver sumido de circulação. Provavelmente a tipificação da diabrura como mero boato fosse digna de fé e ele estivesse lá em Pontes, MG, passeando a sua honestidade. E há também o fator finesse. Ora, trazer bacalhau ou levar carne seca escondido da aduana é coisa de contrabandistas; trazer pedras preciosas do exterior ou levá-las daqui para lá sem a bênção da alfândega é coisa de cavalheiros refinados.
Mas para mim, subsiste a desinformação sobre o desfecho do caso. Pobre de mim, desinformado que sou!
Porém, alvíssaras! Pelo menos a saudade um dia foi mitigada! Recentemente, assistindo na televisão uma CPI sobre o escândalo do mensalão que com tanto esmero o PT de Lula escondeu, surgiu l’ocasion belle: lá estava o ex-ministro. Não, não respondia perguntas: fazia-as! Agia como promotor público, não como réu! Sua circunspecção era o retrato vivo da própria estátua da Justiça, com a espada na mão e a venda nos olhos!
Fiz a conta nos dedos: se ele fora considerado culpado e agraciado com uns doze anos de prisão, já havia tempos cumprira um sexto da pena na cadeia, o restante em liberdade, sem tornozeleiras, que ainda não existiam e voltara à sua dignidade de homem público, quite com a sociedade.
Mas ele era ministro, primário, tinha endereço fixo e era amigo do poder, portanto, inocente Eu perdera tempo fazendo a conta nos dedos. Como estou perdendo agora.

Absolvere nocentem satius est quam condenare inocentis