quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

OS DIAMANTES SÃO ETERNOS

De certo ministro da justiça, muito simpático e benquisto pela ditadura militar correu certa ocasião um boato muito feio: diziam que ele era chegado em contrabandear pedras preciosas. Veja só! Fofoca de más línguas, de gente que não tem o que fazer, óbvio.
Mas o caso não ficou muito bem explicado, pelo menos para mim. Bem, eu já disse que devo portar algum problema para entender as coisas. Talvez por isso nunca tenha sido convidado para nenhum ministério. Pessoas que ocupam esses cargos são ligeiras e precisas em identificar oportunidades e contam com advogados extremamente persuasivos. É o direito à defesa, ao contraditório, extensivo a todos os cidadãos, com ou sem pedras preciosas. E você, se for apanhado com a mão na massa, ou com a boca na botija, é bom que saiba disso.
Quase três décadas se passaram e eu comecei a sentir saudade desse distinto senhor, que parecia haver sumido de circulação. Provavelmente a tipificação da diabrura como mero boato fosse digna de fé e ele estivesse lá em Pontes, MG, passeando a sua honestidade. E há também o fator finesse. Ora, trazer bacalhau ou levar carne seca escondido da aduana é coisa de contrabandistas; trazer pedras preciosas do exterior ou levá-las daqui para lá sem a bênção da alfândega é coisa de cavalheiros refinados.
Mas para mim, subsiste a desinformação sobre o desfecho do caso. Pobre de mim, desinformado que sou!
Porém, alvíssaras! Pelo menos a saudade um dia foi mitigada! Recentemente, assistindo na televisão uma CPI sobre o escândalo do mensalão que com tanto esmero o PT de Lula escondeu, surgiu l’ocasion belle: lá estava o ex-ministro. Não, não respondia perguntas: fazia-as! Agia como promotor público, não como réu! Sua circunspecção era o retrato vivo da própria estátua da Justiça, com a espada na mão e a venda nos olhos!
Fiz a conta nos dedos: se ele fora considerado culpado e agraciado com uns doze anos de prisão, já havia tempos cumprira um sexto da pena na cadeia, o restante em liberdade, sem tornozeleiras, que ainda não existiam e voltara à sua dignidade de homem público, quite com a sociedade.
Mas ele era ministro, primário, tinha endereço fixo e era amigo do poder, portanto, inocente Eu perdera tempo fazendo a conta nos dedos. Como estou perdendo agora.

Absolvere nocentem satius est quam condenare inocentis

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